Graças à classe hospitalar, dezenove pacientes com câncer conseguem passar de ano na escola.

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No seu primeiro um ano e meio de funcionamento, sala de aula implantada no Hospital Oswaldo Cruz atendeu 28 crianças internadas para tratamento. Foto: Inaldo Lins/PCR

"Na classe, esqueço que está doendo". Esta afirmação de uma das crianças com câncer que estuda na classe hospitalar instalada no Centro de Onco-Hematologia Pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Ceonhpe/Huoc) demonstra o bem que a retomada dos estudos proporciona aos pacientes. Fruto de uma parceria entre a Prefeitura do Recife, o Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer - Pernambuco (GAC-PE) e o Instituto Ronald McDonald, a primeira classe hospitalar do Estado conseguiu, em seu primeiro um ano e meio de funcionamento, fazer com que 19 alunos passassem de ano em suas escolas de origem e quatro fossem alfabetizados, entre os 28 que foram atendidos desde sua inauguração, em março de 2015.

Os dados foram divulgados em reunião das Secretarias Municipais de Saúde e Educação com representantes do GAG-PE e a primeira dama do Recife, Cristina Mello, para avaliação dos resultados da classe, batizada de Semear, e planejamento das ações do Setembro Dourado - mês de conscientização sobre o câncer infantojuvenil. Na ocasião, Cristiane Pedrosa, professora da rede municipal de ensino responsável pela classe, apresentou o resultado de uma pesquisa de satisfação aplicada com alunos, pais e profissionais do Ceonhpe. Todos os entrevistados foram unânimes ao afirmar que, com as atividades pedagógicas e lúdicas, a classe hospitalar tem contribuído para o bem-estar dos pacientes internados.

"Além de garantir a continuidade dos estudos que normalmente são interrompidos durante a internação, o  acesso ao contexto escolar minimiza o impacto do tratamento, contribuindo para a sua aceitação, melhora da autoestima e socialização. As aulas funcionam como um momento de escape da rotina de quimioterapias e dão a eles uma perspectiva de futuro", disse Cristiane Pedrosa, baseada nas respostas colhidas no levantamento. Especialista em atendimento pedagógico hospitalar, a professora divide seu dia entre as aulas na sala da classe hospitalar e as aulas individuais no leito, inclusive na UTI, para os pacientes que não estão em condições de ir até a sala.

"Tivemos uma paciente que estava toda entubada e, mesmo assim, pedia para ter aula. A professora se identificou perfeitamente e aprendeu a lidar com o dia a dia do hospital e as particularidades do tratamento. Estamos fazendo um trabalho muito bonito. A implantação da classe trouxe uma contribuição enorme para a nossa causa. Ter esse apoio das Secretarias de Educação e Saúde foi essencial. Estamos saindo desse encontro com a bagagem cheia e com o sentimento de que ainda vamos poder fazer muito mais. Temos tudo para seguir em frente", disse a oncopediatra Vera Morais, fundadora e presidente do GAC-PE.

O secretário de Educação do Recife, Jorge Vieira, destacou a importância da normatização da classe através de decreto e instrução normativa publicados  no Diário Oficial para nortear e dar as diretrizes do atendimento pedagógico hospitalar no Recife. "A classe hospitalar não é apenas um reforço. O principal ponto é que o estudante continua, na medida do possível, aprendendo os conteúdos que estão sendo trabalhados na sua escola de origem, não interrompendo o processo de escolarização".

O secretário Municipal de Saúde, Jailson Correia, também destacou os benefícios da classe para o tratamento dos pequenos pacientes. "Pelos resultados mostrados na pesquisa, vimos o quanto a educação está sendo importante no tratamento de saúde das crianças. Além de trazer importantes resultados pedagógicos, com as crianças passando de ano e sendo alfabetizadas, a educação conforta e ajuda as crianças a encarar o tratamento de forma melhor. É um avanço muito grande na política pública", afirmou o médico e gestor.

CONVÊNIO - A Prefeitura do Recife assinou convênio com GAC, Huoc e Instituto Ronald McDonald para implantação da primeira classe hospitalar de Pernambuco em março de 2015. A iniciativa tem o objetivo de restabelecer o direito social básico à educação e manter o vínculo escolar da criança com câncer. A sala de aula hospitalar, que é um tipo de atendimento educacional especializado, funciona numa sala do 5º andar do Huoc, onde se encontram alguns dos leitos de enfermaria para internamento. O espaço tem capacidade para oito alunos por vez.

Os pacientes que estão internados no Ceonhpe têm aulas regulares de português, matemática, ciências, geografia e história. Batizada de Semear, a sala de aula multiseriada engloba estudantes e conteúdos das mais diversas séries da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com idade entre 4 a 15 anos. As crianças internadas, a maioria delas do interior de Pernambuco, têm direito aos mesmos recursos pedagógicos utilizados nas demais escolas municipais do Recife, como tablets, kits de robótica de encaixe da Lego, mesas educativas que auxiliam a alfabetização, jogos matemáticos (dominós, ábacos, calculadoras e jogos de encaixe) e também kits de literatura com livros de contos, fábulas e poesias; tudo adequado para crianças hospitalizadas.

A professora faz a interlocução com as escolas de origem dos estudantes para saber que conteúdos estão sendo ensinados nas unidades de ensino. Ela aplica as provas enviadas pelas instituições de ensino e as devolve junto com relatórios do desenvolvimento pedagógico dos alunos. Quando a escola de origem não manda material, a docente trabalha com base na Política de Ensino do Recife.

Com um modelo já existe em cerca de 150 hospitais do Brasil, a Semear é a primeira unidade de Pernambuco a seguir as normas estabelecidas pelo Ministério da Educação no documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar - estratégias e orientações.